19 de abril de 2012

Unesp investiga denúncia de racismo contra africanos

Problema grave na área universitária. "Sem cotas para os animais da África". A frase escrita no mural em frente a um dos centros acadêmicos da Unesp de Araraquara deixou os alunos africanos do campus apreensivos e fez a universidade abrir uma sindicância interna. Por causa do ato, os estudantes e os professores do Grupo de Estudos da Cultura Africana registraram um boletim de ocorrência por racismo na polícia da cidade.
Sumbunhe N"Fanda, 24, graduando de administração pública, disse que as mensagens racistas o deixam apreensivo. "Temos medo de nos atacarem", disse o aluno de Guiné-Bissau, que está no Brasil há um ano.
N"Fanda e outros 25 africanos fazem intercâmbio na Unesp. A frase foi escrita no início deste mês no mural em frente a um centro acadêmico da Faculdade de Ciências e Letras da instituição. "Fiquei muito triste, meus amigos ficaram revoltados", afirmou o mestrando em sociologia Daniel Cassamá, 28, também de Guiné-Bissau. Foi ele quem reuniu os alunos e professores que, juntos, procuraram a polícia.
"A pessoa não se sente segura depois disso. Se ele [autor da frase] foi capaz de exteriorizar esse pensamento, coisa pior pode acontecer", disse o angolano José Patrício Morais de Almeida.
Para o professor Dagoberto José Fonseca, coordenador do grupo, o ato não deve ser tratado como um caso isolado. "Não é individual. É uma ação coletiva", diz Fonseca. Segundo ele, pichações que fazem referência ao grupo neonazista White Power (poder branco) já haviam sido feitas há alguns anos em banheiros da faculdade. "Isso não foi escrito no banheiro, mas em um espaço de grande circulação".
Alguns alunos discordam, porém, de Fonseca. Para Ana Paula Pazzetti, 22, aluna de ciências sociais, as mensagens racistas não foram feitas por um grupo organizado, mas por "indivíduos" que não representam todos os alunos. "São casos isolados. De qualquer forma, ter este tipo de neofascismo aqui é intolerável, porque temos grupos de estudos sobre africanidade que são referência na área".
A Unesp afirmou, em nota, que já nomeou uma comissão interna para apurar os fatos, e que também vai notificar a Polícia Federal e o Ministério Público sobre o caso. Nem a instituição nem a polícia tinham ontem pistas da autoria da pichação. Segundo o delegado Antonio Luiz de Andrade, a polícia irá realizar exame técnico da pichação para tentar identificar a autoria.
As vagas ocupadas pelos alunos africanos fazem parte do PEC-G, programa educacional dos ministérios das Relações Exteriores e da Educação, que oferece vagas para estudantes estrangeiros de países em desenvolvimento.
Fonte
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